quinta-feira, 23 de julho de 2015


Kagome, Rukia, Lara Croft, Hermione Granger, Alice, Branca de Neve, Pequena Sereia, Sakura Kinomoto, Haruno, Arlequina... sim, essas são algumas personagens de desenhos, animes e jogos que muitos de nós conhecemos. E há quem goste de dar vida para elas mesmo que não seja uma atriz com certificado ou autorização. Quem dá vida a essas personagens são chamadas de cosplayers, pessoas que representam personagens à caráter. Pelo mundo, eventos e até mesmo concursos elegem os melhores e as melhores cosplayers, e no Brasil esse costume vem se difundindo ao longo dos anos em eventos como Anime Friends (SP) e AnimeZone (Londrina-PR) que movimentam às férias de julho e dezembro.

Mas se engana quem acredita que “cosplayer” é coisa de criança. Muitas de nossas cosplayers, lembrando que me refiro ao Brasil, como Bunnyko e Julie não são mais adolescentes de 12 anos de idade. São adultas! Só que ser cosplayer no Brasil ainda é bem difícil principalmente quando a questão é “respeito”. Com o número de eventos nerds e geek aumentando, aumenta-se também o destaque na mídia e durante a semana do dia 13 de julho, a emissora Globo deu grande destaque ao evento Anime Friends, que ocorreu aqui em São Paulo, e coincidiu com a Comic Com San Diego, dos Estados Unidos. Durante a CCSD, cosplayers mulher reclamaram do assédio sexual que sofreram e, pelo jeito, aqui no Anime Friends não foi tão diferente.


Eu entrevistei três pessoas que participaram (nessa e em outras edições de eventos do gênero) para saber se elas, cidadãs comuns e que gostam de ser cosplayer, já sofreram ou conhecem pessoas que passaram por essa situação. A Cissa (21 anos), primeira entrevistada, respondeu que não conhece e nunca sofreu esse tipo de abuso; quando foi cosplayer, há mais ou menos dois anos, apostou no “sexy no jutsu” do Gaara, personagem do anime Naruto, numa versão Lolita (moda japonesa). Minha segunda entrevistada, a Micaelle (21 anos) foi ao evento geek como Mario Bros, em uma versão feminina, que tem sido muito cotada nos últimos eventos, afinal, quem não gostava de jogar Mario? Ambas, Cissa e Micaelle, contam que nunca sofreram nenhum assédio nos eventos. Por outro lado, Ana Paula de 14 anos, que foi cosplayer da versão feminina do Luigi (também do jogo Mario Bros.) afirme que não sabe ao certo se sofreu assédio, porém, informou que um garoto passou a mão na bunda dela.

Tish: E como você reagiu com relação a isso?
Ana Paula: Comecei a falar “quem você pensa que é?”

Sim, Ana Paula, você sofreu um abuso mesmo acreditando que não seja. Isso de “passar a mão” ou “apalpar” qualquer parte do corpo de uma cosplayer (mesmo que ela não esteja sendo cosplayer) é um absurdo e um assédio, independentemente da idade ou do lugar em que você está. Independentemente da sua roupa. E todas elas tiveram a mesma opinião sobre uma perguntar "você acha que uma cosplayer merece isso?". Sabe qual foi a resposta: NÃO. E um trecho do que a Cissa falou eu concordo: assediar e mexer com uma cosplayer, é rebaixar sua arte e seu trabalho.

Cosplayer não é uma brincadeira boba e muito menos somos modelos pagas para isso. Falo “somos” porque eu também sou cosplayer e esse foi meu segundo ano como Alice, de Alice in Wonderland, em eventos como o Anime Friends. Quando decidi que eu iria ser cosplayer, inovar e melhorar em cada evento os meus cosplays, decidi por gostar e não para chamar a atenção como muitos machistas apontaram em resposta a reportagem do site do G1. Animes, HQs e jogos erotizam demais suas personagens femininas, mas não cabe ao homem dizer o que a mulher deve ou não vestir porque, a partir do momento em uma mulher ou uma garota decidi ser cosplayer e investe em uma personagem como a Arlequina da Margot Robbie ou a Viúva Negra da Scarlett Johanson, ela não deve ouvir piadas sujas, não está pedindo para você passar a mão ou apalpar sua bunda. Assim como você, jovem geek e nerd – se é que devo chamar você assim – que tem o direito de se customizar de Naruto, Subzero, Scorpion, Ryu, Goku, nós mulheres também temos o mesmo direito de nos divertir e querer mostrar que somos capazes de interpretar.

Nunca sofri abuso, nunca mexeram comigo e nunca falaram nada, talvez por eu andar em grupo, mas é uma ofensa chamar uma cosplayer de vagabunda ou menosprezar a arte. Não existe roupa vulgar, existe seu olhar podre sobre tudo. E se lutar pelos meus direitos como mulher, como cosplayer, como pessoa do sexo feminino que quer ser respeitada me torna uma feminista, ótimo! Eu aceito ser chamada de feminista. O que não aceito, é ser objetificada. Sou cosplayer, sou mulher, mereço respeito!

* Cissa optou por ter somente seu apelido exposto na postagem. Já as fotos, são de minha autoria e de Mica Gois. Não conheço as cosplayers, caso você conheça, me avisa! (;