segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O jeito é ser feliz

Esse é o meu primeiro post e quero falar sobre uma coisa que tem chamado minha atenção de uns tempos para cá.

Desde que comecei meu estágio e voltei a enfrentar o metrô de São Paulo à 7:30 da manhã percebi uma coisa: não adianta viver nervoso ou estressado. Cada vez mais eu vejo pessoas estressadas e xingando o outro no metrô lotado e para mim isso é uma violência verbal, e das grandes. Todo paulistano acorda às 5 da manhã, ou até mais cedo, para entrar no trabalho às 7 ou 8 horas da manhã, no meu caso de estagiária eu entro às 9hrs, mas é na zona sul, longe de onde moro. O metrô é um horror, porque nenhum político se importa com ele ─ seja o Prefeito ou o Governado ─ ou melhor, nenhum governante se importa com a população. Vamos trabalhar amassados, doloridos ─ esses dias mesmo eu estava quase dobrando minha coluna sobre o ferro de apoio porque não tinha como eu fazer uma viagem de metrô em uma pose certa.
Ninguém têm consciência de nada. Hoje uma mulher só faltou bater na outra porque não conseguia segurar na barra, dizendo como se a moça que não a estivesse deixando segurar, só que não tinha como a moça dar lugar. Depois, uma moça acertou meu queixo sem querer. Eu poderia ter xingado, falado que não desculpava coisa nenhuma (ué, estou no meu direito de fazer uma viagem sem agressão), mas dei de ombros e apenas respondi "sem problemas", porque realmente não teve problema nenhum: ela não conseguia se mexer sem esbarrar em mim, eu não conseguia mexer os pés sem pisar no pé dela. Sábado mesmo, quando eu voltava da faculdade no metrô Belém, linha vermelha, uma moça me empurrou (isso mesmo, colocou a mão nas minhas costas e me deu um belo empurrão) só para entrar no metrô. Ela não queria nem saber se eu ia esbarrar na senhora que estava a minha frente, ou se ia prender o pé no vão.
Sei que os políticos não investem no transporte público, afinal, só faixa exclusiva de ônibus e ciclofaixa não vai resolver o problema de São Paulo, mas as pessoas estão perdendo o senso de coletividade. Jovens sentam em bancos preferenciais e não dão lugar para quem realmente precisa utilizá-los; as pessoas que estão sentadas não se oferecem para levar as bolsas ou mochilas (mesmo que não seja obrigação, mas é gentileza); xingam se você esbarra nelas sem querer e nem querem saber ou te xingam até quando elas próprias estão erradas! E tudo isso quando estão indo trabalhar ainda. Quando é para voltar para casa, depois de 8 ou 9 horas de trabalho, com uma hora de descanso e quase sem poder ir ao banheiro, levantar para esticar as pernas, ou sentar descansar as mesmas, são ainda mais selvagens.
As pessoas estão ficando cada vez mais infelizes, e com isso descontam todas as frustrações em outras pessoas, que estão tão estressadas quanto. Se preocupam em ganhar dinheiro e mais dinheiro, se esquecem que dinheiro não é tudo. Precisamos dele, infelizmente, para nos vestir, nos alimentar, nos proporcionar, quem sabe, um dia ou algumas horinhas, de lazer que vão acabar estressando do mesmo jeito, porque você não vai ter paciência de esperar em uma fila para comprar pipoca para o cinema, ou comprar o ingresso do cinema, nem paciência para alugar uma bike no Ibirapuera aos domingos.
"Mas, Tish, por que você está dizendo tudo isso?!"
Eu decidi que não vou mais me estressar pelas manhãs quando for empurrada para entrar no metrô ou no trem da CPTM. Não vou me importar mais com os pisões e nem com a hora, sei que consigo chegar a tempo e que meu tênis vai proteger meus dedos. Decidi que vou ignorar se me xingarem. E se eu quase for dobrada, sem problemas, a dor não vai deixar eu dormir e passar da estação em que tenho que descer. Viver em São Paulo está ficando cada vez mais difícil. O Governador não liga se vamos trabalhar pela manhã que nem sardinhas enlatadas ─ ele sai de Higienópolis com a comitiva dele protegendo e abrindo caminho ─ e o Prefeito também não liga se não tem ônibus suficiente para tudo isso de gente ─ ele chega de helicóptero na Prefeitura. Eu vou fazer minha parte: em outubro, votarei de consciência limpa, porque vou analisar os candidatos; vou levar meu livro para me distrair na ida e na volta; escutarei "Shake it off" da Taylor Swift enquanto alguém me xinga no metrô. Vou dar "bom dia" para o senhor que fica do outro lado da rua e, quando atravesso, está sentado na cadeira observando o movimento e sorri para mim. Darei "bom dia", mesmo que ninguém seja feliz às 8 da manhã.
Seu quero e eu vou ser feliz, porque esse é o jeito de sobreviver a selva de pedra chamada São Paulo.

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